Acho que todo mundo já passou por uma situação em que deixou uma outra pessoa constrangida sem querer, no meu caso, eu vivo fazendo isso, e juro, a maior parte é sem querer mesmo. Eu aplico muita ironia no meu dia a dia, aquela coisa de respostas rápidas e muitas vezes, por ser meu jeito mesmo muito solta, simplesmente falo alguma coisa até séria mas de um jeito que vira graça.
Um dos assuntos que constrange muito as pessoas que não me conhecem muito é o fator família, alguns dos meus amigos não sabem que meu pai é falecido, imagine meus conhecidos, enfim, eu não me apresento a uma pessoa e digo, "oi, meu nome é Geovana e eu não tenho pai"e também evito um tanto o assunto, não porque me incomode, quanto ao fato eu já sou muito bem resolvida, e não me abalo quando conto e tudo mais, não me chateia, mas parece que quando você conta a pessoa fica sem graça, como se te chateasse, ou então fica me olhando com cara de piedade, o que é terrível!
O curioso é quando entra em algum assunto que alguém pergunta sobre minha família, do tipo, "o que seus pais fazem da vida?". Quando eu não quero estender a conversa, mas não quero mentir eu falo, "Bom, da vida meu pai não faz mais nada, mas era locutor" depois estendo para falar da minha mãe e tal.
Mas esses dias aconteceu algo meio diferente, eu fui contar uma arte minha, minha e de mais uma prima minha, como nós éramos um pouco atentadas. Falava com um amigo sobre a influência da TV na vida das crianças, principalmente nas mais retardadas, como foi meu caso!
Uma vez, eu e minha prima, resolvemos imitar uma vídeo cassetada (super inteligente!) eram dois "moleques" que estavam vestidos de Batman, um deles dava um "Bat Soco " na barriga de um cara, o outro ia logo em seguida e dava um "Bat Saco"! A cobaia foi o eu pai! Pense! Ele estava dormindo durante a nossa grande ideia, eu fui e dei o "Bat soco" minha prima foi e deu o "Bat Saco" mas ela não foi delicada... Enfim, eu já estava meio longe mas levei a pequena bronca junto!
Quando eu terminei de contar, meu amigo, muito espontâneo, falou "nossa seu pai deve ter morrido de raiva e de dor", então por um impulso idiota eu disse "não, na verdade ele morreu de cirrose, mas não bebia, foi bem estranho o caso dele". Meu amigo ficou sem palavras, ele não sabia que meu pai já havia falecido, ficou meio sem graça pelo que eu falei, mas falei de boa, ele percebeu que não havia falado nada errado, mas a situação foi um tanto constrangedora, claro.
Então ele agiu normalmente e voltou a comentar sobre o fato, falou, "nossa, e sua prima não morreu de vergonha depois?"
Ai então eu não aguentei mesmo, e contei:
"Bom, na verdade... ela morreu, mas de acidente... dois anos antes do meu pai."
Não preciso dizer que ele me olhou com aquela de "você não existe".
Juro, foi a maneira mais estranha que eu já contei para alguém sobre os dois fatos.
Tem gente que pode ler isso e achar um horror, tem gente que vai rir, nós rimos muito depois do jeito que a "coisa" aconteceu, meu pai mesmo deixava bem claro que quando ele morresse, eu não deveria ficar chorando, que isso chatearia muito ele, imaginar que quando eu lembrasse dele me trouxesse lágrimas e sofrimento, ele queria ser lembrado de forma alegre, ele tinha um humor um tanto peculiar também, mas tudo isso serviu de lição, para o que eu ainda não sei...
Auto-Ironia!